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Apresentações de trabalhos: jogo inspirado em orixá destaca-se entre diferentes pôsteres no 2º dia de VII Eras e VII Enneabi

Avaliadora diz ter se surpreendido com número de submissões e destaca também projeto do IFRJ que traz à tona autores negros

Dentre uma vasta diversidade de trabalhos e experiências compartilhadas em pôsteres no 2º dia de VII Eras e VIII Enneabi, um jogo de tabuleiro destaca-se pela ludicidade. Denominado Orunmilá, a proposta, levada ao evento por estudantes do Cefet - MG - Campus Curvelo, envolve dúvidas existenciais como uma forma de aquisição de conhecimento que favorece o combate ao racismo estrutural.

A componente da equipe Ana Vitória Moreira (na foto ao lado) foi quem se voluntariou a explicar: “Já jogou trilha? Ele [o jogo Orunmilá] é uma amarelinha e você joga um dado de seis faces. Caiu cinco, você ‘anda’ cinco casinhas e, em cada casinha, você tem um questionamento. Basicamente, todos eles são relacionados a questões étnico-raciais e ao racismo estrutural. São perguntas que vão te levar a refletir sobre o racismo estrutural: como o racismo é no seu dia a dia? Como ele te afeta, afeta quem está ao seu redor? e como você pode trabalhar para poder resolver isso no seu ambiente?”

A equipe fundamenta o trabalho na ideia de que racismo é uma ideologia de dominação construída a partir da escravização de povos e extermínio de culturas. Sendo uma construção histórica, política e social cuja dominação perdura nos dias de hoje, com os mais diversos efeitos possíveis, é necessário falar sobre ele. “Para combatê-lo, é necessário saber que não há que esconder o assunto, pois isso só o reforça ainda mais. Então é necessário nós conversarmos, debatermos… saber por que isso acontece e como acontece.”

O nome do jogo foi inspirado em um orixá homônimo da mitologia yorubá: “Orunmilá é basicamente quem tem todo o conhecimento, é aquele que tudo sabe, que tudo vê.” Trata-se do terceiro projeto desenvolvido pelo grupo de alunos, como uma espécie de desdobramento dos dois primeiros. “Essa daqui é uma versão mais avançada do jogo. Quando a gente começou, nós começamos com uma roleta (...). Aí a gente levou ele para a Praça de Governo, que teve uma apresentação de alguns trabalhos lá. E foram chegando pessoas que a gente não conhecia. Também chegaram professores que não eram tão antenados na área e começaram a liderar, chegaram outras pessoas e foram também liderando.” Contudo, ela explica que a existência de uma figura central não é essencial, mas sim a investigação e a reflexão.

Equipe do projeto que originou o jogo junto a avaliadores do evento

Machado de Assis embranquecido?

Em meio à riqueza de diferentes trabalhos, um segundo chamava a atenção por mostrar uma espécie de “antes e depois” do lendário escritor Machado de Assis. Qual seria o mais fidedigno? O preto ou o branco? Segundo a autora do projeto “Letras pretas: estudo sobre a presença de autores negros na literatura brasileira”, o que ocorreu com Machado de Assis ocorreu também com diversos outros autores literários cuja representação fotográfica ou artística sofreu uma “embranquecimento” para aproximá-los do padrão branco de beleza tradicionalmente vigente.

Mas evidenciar este tipo de prática racista não é o principal objetivo do projeto apresentado pela estudante do IF Fluminense - Campus Cambuci, Ana Clara Tavares (na foto ao lado). E sim, desenvolver o hábito e técnicas de leitura, com foco em obras de autores e autoras negras não conhecidas justamente por causa do racismo. Em meio a alunos dispostos em roda, organiza-se um espaço onde as pessoas se veem e ouvem mensalmente, em torno de obras escolhidas pela própria Ana Clara, bolsista orientada pelo professor Rian Ferreira. 

Uma das metas que já vêm sendo alcançadas é a ampliação do repertório cultural dos participantes, cujas pesquisas e trabalhos acadêmicos se engrandecem a partir do “escovar a história à contrapelo” (expressão utilizada no poster).