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IF Sudeste MG lembra Outubro Rosa com ação nas redes sociais

Matéria especial sobre o tema e publicações especiais nas redes sociais farão parte das ações que reforçam a questão do câncer de mama e a saúde da mulher.

Para quem não me conhece, meu nome é Juliana Rodrigues, sou jornalista do IF Sudeste MG- Campus São João del-Rei. Também sou mulher e acabei de fazer 40 anos. Razão pela qual fiz, pela primeira vez, a mamografia como meio de prevenção ao câncer de mama.

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) e Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) é recomendado que toda mulher acima dos 40 anos faça, pelo menos de dois em dois anos, a mamografia.

O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células da mama. Esse processo gera células anormais que se multiplicam, formando um tumor. Para lembrar a importância da prevenção ao câncer de mama, é celebrado no Brasil, desde 2002, o Outubro Rosa.

O IF Sudeste MG também abraça a data com ações como esta matéria especial e informações sobre a prevenção do câncer de mama nas redes sociais. Além disso, durante todo o mês de outubro, a partir desta quarta-feira, dia 14, o Outubro Rosa: a resposta está em suas mãos estampará a capa do Facebook oficial da Reitoria, dos campi e campi avançados.

Voltando à minha primeira experiência com o exame, estranhei o tamanho desconforto ao me submeter a ele e falei com a especialista que o estava aplicando, como a tecnologia não havia avançado o suficiente para tornar o exame mais confortável. E a resposta foi precisa: “Se mais homens fizessem esse exame, já teriam inventado um outro jeito”. Sim. Homens também fazem mamografia eventualmente e representam 1% dos casos acometidos pelo câncer de mama, segundo dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer).

O fato é que o machismo e a condição social da mulher em nossa sociedade também afetam sua relação com a saúde. Curiosamente, o estudo “O Perfil do Médico Especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem no Brasil”, realizado recentemente pelo CBR (Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem) mostrou que, atualmente, são cerca de 62,4% médicos radiologistas homens, contra 37,6% mulheres. Isso significa que a imensa maioria dos especialistas que realizam as mamografias não são mulheres, o que poderia explicar também, a evolução lenta do aparelho, que se mantém basicamente o mesmo nos últimos 40 anos.

A importância da mamografia

Apesar do desconforto, a mamografia ainda é uma das principais aliadas no diagnóstico precoce do câncer de mama, junto ao autoexame regular. Segundo o Instituto Oncoguia, diagnosticar o câncer precocemente aumenta significantemente as chances de cura, 95% dos casos identificados em estágio inicial têm possibilidade de cura. Por isso, a mamografia é imprescindível, sendo o principal método para o rastreamento da doença.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) das 11,5 milhões de mamografias que deveriam ter sido realizadas no ano passado, apenas 2,7 milhões foram feitas. A diminuição acentuada do exame é um fator de risco para milhares de mulheres e um alerta para a importância da campanha. Parte desta redução se deve ao acesso restrito ao exame , em especial no Sistema Único de Saúde (SUS), onde a oferta média nacional de mamógrafos é de 1,3 aparelho por 100 mil habitantes, muito abaixo do recomendado pela OMS.

Outro fator que poderia explicar a redução do número de mamografias, também está relacionada a fatores culturais da sociedade patriarcal: o temor de descobrir-se a doença que leva a perda radical das mamas. Para a imagem corporal da mulher, as mamas encarnam sua feminilidade, como se a perda da mama, representasse ser menos mulher.

imagem corporal no câncer da mama

No artigo “O QUE NARCISO ACHA FEIO: Corpo ideal e imagem corporal no câncer da mama”, - capítulo do livro “CÂNCER DE MAMA: Interlocuções e práticas interdisciplinares”- Tatiana Rodrigues e Maria Stella Filgueiras argumentam que os discursos que normatizam o corpo – seja científico, tecnológico, publicitário, médico, estético etc. – exercem inegável influência na cons­trução e na manutenção de formas padronizadas de beleza. O corpo ideal propõe patamares inatingíveis para a maioria das pessoas. Mesmo aquelas que vivem da imagem, lançam mão de photoshops a fim de retocar ou remo­delar alguns detalhes.

A objetificação do corpo numa sociedade cada vez mais exibicionista- afinal, nossas vidas passaram a serem reportadas diariamente nas redes sociais, em especial em tempos de isolamento social- recai como um peso maior sobre as mulheres, para as quais a exigência na imposição de modelos de beleza e perfeição se fazem mais rígidos que para os homens.

“Além das implicações que qualquer adoecimento comporta, o câncer da mama é um dos mais temidos pelas mulheres devido aos efeitos psicológicos da amputação parcial ou total de um órgão repleto de simbolismos ligados à maternidade, à feminilidade e à sexualidade.”, explica as autoras.

A questão é tamanha que, para a realização desta matéria, buscamos a ajuda de três mulheres servidoras que já passaram por questões de combate à doença ou lidar com a suspeita da mesma. Todas as três recusaram-se a falar publicamente nesta reportagem com a mesma argumentação: é que ainda dói demais tratar do assunto.

Para Tatiana e Maria Stella, o que se exige das mulheres é a apresentação de uma performance per­feita na qual, além de belas, elas devem ser bem-sucedidas profissionalmente e estar sempre dispostas, inclusive sexualmente. Diante de tamanha sobre­carga, aquelas que não se sentem capazes de corresponder a essas expecta­tivas.

Em tempos de pandemia, essa sobrecarga é agravada pela educação dos filhos em casa devido a suspensão das aulas durante a COVID-19. Antes da pandemia, as mulheres já gastavam quatro vezes mais tempo nas tarefas não remuneradas que os homens.

Todo esse contexto social, cultural e emocional faz com que muitas mulheres deixem, muitas vezes, sua saúde em segundo plano. Para Lilian do Nascimento, Professora do IF Sudeste MG- Campus São João del-Rei e enfermeira, doutoranda em saúde Coletiva na UFJF, com especialização na área de saúde da mulher, demos levar em conta nossa trajetória de lutas, resistência e os desafios que enfrentamos cotidianamente.

“O olhar sobre a saúde e direito das mulheres deveria ocorrer no dia-a-dia dos serviços de saúde e cenários de atuação e vida das mulheres na sociedade. Ainda que apenas uma vez ao ano, ao meu ver, a campanha ( Outubro Rosa) busca trazer esta consciência coletiva de mobilização para a prevenção, conhecimento do próprio corpo, os direitos alcançados pelas mulheres, assim como os desafios na sua efetivação”, reforça Lilian, enfatizando a necessidade de reafirmação de ações políticas de saúde voltadas às mulheres. 

 

Prevenção é o caminho

Entre as medidas que contribuem para prevenir o câncer de mama estão a adoção de comportamentos protetores, como seguir uma alimentação saudável, praticar atividades físicas com regularidade, evitar bebidas alcoólicas e manter o peso adequado. Essas ações são capazes de evitar 28% de todos os casos da doença. (Confira nosso infográfico das 07 dicas para prevenção do câncer de mama) 

Os principais sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama são nódulo (caroço) fixo e, geralmente, indolor; mudança na posição ou formato do mamilo; vermelhidão, retração ou aparência de casca de laranja na pele do seio; saída espontânea de líquido pelo mamilo e caroços no pescoço ou axilas. Por isso, o autoexame é tão importante, mas não exclui a necessidade de acompanhamento anual, em especial para mulheres acima dos 40 anos. 

Apesar de essencial, muitas mulheres não realizam o autoexame regularmente, “acredito que pela resistência em se tocar, em se olhar no espelho, em reconhecer seu próprio corpo, em escutar suas próprias queixas e necessidades”, explica a professora e completa: “acredito que pelas inúmeras demandas de sua vida (a desigualdade de gênero, que leva mulheres a oportunidades de trabalho e rotinas desiguais em seu cotidiano), muitas mulheres tendem a deixar sua saúde de lado”.

Mais uma vez, a construção social machista de que a mulher deve ser a cuidadora principal e multiarefa, abstendo-se de si mesma, acaba por impactar em sua saúde física e mental, somada às deficiências no sistema público de saúde, em especial com a saúde da mulher, para que esta se torne mais efetiva.

Sobre o Outubro Rosa

Outubro Rosa é uma campanha de conscientização que tem como objetivo principal alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e mais recentemente sobre o câncer de colo do útero.

No Brasil, as campanhas de conscientização sobre o câncer de mama acontecem desde 2002, mas foram instituídas por lei federal apenas em 2018.  E, a partir de 2011, ocorrem campanhas sobre o câncer de colo do útero em diversos estados. A publicidade adotou o tom de rosa como motivador de campanhas no período, e ações em mídias sociais, que também tendem a ser reforçadas durante este mês.