Professora do IF é embaixadora de prêmio que reconhece projeto de mulheres rurais

Cinco mulheres, frutas típicas nos quintais e um sonho em comum: foi assim que surgiu, há cerca de dois anos e meio, o Projeto Sabores do Cerrado. 

O objetivo era apenas pagar as dívidas dos associados da Associação Comunitária dos Produtores Rurais Panelinhense, localizada no pequeno município de Miravânia - norte de Minas Gerais, mas o projeto foi muito além, e hoje, Marineide Santos, Raimunda Ferreira, Cleuza Fernandes, Maria Aparecida Ramos e Conceição Pereira comemoram o prêmio “Mulheres Rurais - Espanha Reconhece”.

A história que vamos contar aqui, chegou a nós através da Coordenação de Ações Afirmativas (CAAF) do IF Sudeste MG, que tem entre seus objetivos, dar visibilidade ao espaço político da mulher rural. 

Nasce um sonho

“Esse projeto significa liberdade, empoderamento. Não adianta falar que a mulher tem que ser empoderada se não tiver condições de ela se empoderar financeiramente. Porque somos mães e não queremos que nossos filhos passem dificuldade”, reflete Marineide.

Marineide Santos, integrante do Sabores do Cerrado, conta que, ao assumir a associação, ela e as companheiras perceberam que, de um lado havia muitos sócios inadimplentes, e, de outro, havia um maquinário parado há mais de 10 anos somado a quintais cheios de frutas típicas, como umbu, maracujá do mato, tamarindo, cagaita e acerola.

Bastava então começar a produzir. E pouco tempo depois, as dívidas estavam pagas, o dinheiro começou a sobrar e a ser devolvido aos sócios. Dessa forma, o Sabores do Cerrado começou a gerar renda. Hoje, as cinco mulheres que começaram o trabalho já têm a ajuda de outras 15 mulheres, que trabalham de forma indireta, e, assim, o coletivo vai fazendo a engrenagem da liberdade financeira girar:

“Esse projeto significa liberdade, empoderamento. Não adianta falar que a mulher tem que ser empoderada se não tiver condições de ela se empoderar financeiramente. Porque somos mães e não queremos que nossos filhos passem dificuldade”, reflete Marineide.

Danielle Baliza, professora do Campus Bom Sucesso do IF Sudeste MG, especialista no tema “mulheres rurais” aponta o potencial de projetos como esses:

“Projetos com coletivos de mulheres são importantes para incluir, capacitar e empoderar essas mulheres, trazer mais renda para que elas possam se tornar mais visíveis. Mulheres sempre estiveram na agricultura, ajudando pais, maridos, o que queremos agora é que elas possam assumir seu protagonismo, possam ser vistas, ouvidas, nosso trabalho é unir essas mulheres, é ajudar para que elas estejam mais organizadas, porque só assim terão mais acesso aos seus direitos, à educação, a um salário, a uma vida melhor”, explica a professora.

Apesar de muitos compradores da polpa, como lanchonetes e restaurantes, terem fechado as portas durante a pandemia, o Sabores do Cerrado soube se reinventar e não sofreu os impactos da crise:

“A pandemia interferiu nas vendas, já que lanchonetes e restaurantes pararam de comprar. Então, chamamos mulheres de cidades vizinhas, passamos as polpas para elas e elas fazem sorvetes e dão a outras pessoas para vender. Um outro grupo faz bombom artesanal. Estamos conseguindo agregar mais mulheres. Porque essa é a ideia: uma ajudar a outra e todas serem ajudadas por um só projeto”, relata Marineide.

Reconhecimento

O prêmio “Mulheres Rurais - Espanha Reconhece” é uma iniciativa do Escritório de Agricultura da Embaixada da Espanha desenvolvida em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e a ONU-Mulheres. O objetivo da premiação foi dar visibilidade a experiências coletivas, desenvolvidas por mulheres rurais em suas comunidades. Foram consideradas as experiências que tenham contribuído para a segurança alimentar, a redução da pobreza e a mitigação dos efeitos da pandemia na sua vida familiar, organização ou comunidade.

Em um total de 482 inscrições de todos os estados brasileiros e o DF, somente três seriam premiadas com valores em dinheiro, assistência técnica, publicações e um Certificado de Reconhecimento Internacional. E lá estava o Sabores do Cerrado entre os três vencedores. 

Marineide e Raimunda foram à Brasília para receber a premiação, cuja solenidade foi realizada no dia 28 de abril. O evento reuniu o embaixador espanhol, Fernando García Casas, e diversas autoridades que apoiaram a iniciativa de reconhecer experiências e projetos produtivos de mulheres rurais. Foi das mãos de Anastasia Dimiskaya, da ONU-Mulheres, que as Panelinhenses receberam o tão merecido reconhecimento. 

A professora Danielle foi uma das embaixadoras do Prêmio e dividiu com outras pesquisadoras a missão de mobilizar os coletivos de mulheres da região Sudeste.

Danielle atua em projetos e ações de extensão no tema mulheres rurais, mulheres do campo, mulheres e café, empoderamento de mulheres do campo, entre outros, e, como reconhecimento do seu trabalho, foi convidada para ser embaixadora. A pesquisadora atua também no trabalho de assessoramento para a criação de grupos de mulheres através de projetos do IF Sudeste MG.

Segundo Baliza, premiações que partem de órgãos oficiais, como a Embaixada Espanhola, são de extrema importância porque trazem recursos para investir, trazem visibilidade para a questão e incentivam que coletivos de mulheres já existentes continuem, e que outros sejam criados:

“O prêmio incentiva a organização, a união dessas mulheres, a organização delas em torno de um objetivo, e elas acabam se tornando mais empoderadas, mais independentes, mais vistas e ouvidas pela nossa sociedade”, reflete Danielle.

Quem ratifica a importância do prêmio, é uma das vencedoras:

“Ganhar esse prêmio é um sono realizado, um reconhecimento. O prêmio mostrou para nós que não importa onde você esteja, nunca estará sozinha. Não é só o prêmio em si, é o reconhecimento das pessoas, fomos reconhecidas lá pela Embaixada da Espanha. Ganhamos visibilidade. A sensação que eu tenho é que ganhamos na megasena.” Comemora Marineide, sem conter as lágrimas.

A professora Danielle também celebra o prêmio e, mais do que isso, reconhece o IF Sudeste MG como propulsor de projetos para o empoderamento de mulheres rurais:

“Participar deste evento foi um sonho para mim, porque eu acredito nessa causa de mulheres rurais e empoderamento feminino e venho colocando toda a minha energia e o meu coração nela. Se eu tenho a oportunidade de estar numa instituição federal, com reconhecimento como a nossa, por que não fazer isso em prol das mulheres? Eu tenho essa missão de vida, de trabalhar pela inclusão dessas mulheres, por uma agricultura mais sustentável, mais inovadora, mais diversificada. E a minha missão de vida está de acordo com os ODS, objetivos propostos pela ONU, que incluem a igualdade de gênero. Portanto, participar desta premiação, em que órgãos internacionais organizadores dos ODS estavam presentes, poder aproximar nossa instituição deles, conversar e conhecer pessoas que realmente têm poder de decisão foi fantástico, foi uma oportunidade ímpar. Agradeço muito ao instituto e reforço meu compromisso em seguir promovendo projetos em acordo com os objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU”, declara Danielle.

Danielle Baliza e o embaixador espanhol, Fernando García Casas.

Mais um sonho

O prêmio que o projeto ganhou será investido na compra de mais maquinário, conforme conta Marineide:

"Com o prêmio, vamos comprar mais maquinário para aumentar a produção de polpa e trazer mais mulheres para o projeto. Nosso objetivo é chegar ao PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), mas para isso precisamos realizar o nosso sonho atual, que é montar uma casa de polpa”.

Alguém duvida que esse sonho será realizado?

Fonte

 https://www.pelomundodf.com.br/noticia/83974/premio-mulheres-rurais-n-a-espanha-reconhece-foi-entregue-na-embaixada-da-espanha