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Pesquisa analisa o papel dos Institutos Federais no desenvolvimento nacional brasileiro
A contribuição dos Institutos Federais (IFs) para o desenvolvimento nacional brasileiro foi o tema de um artigo publicado no periódico Desenvolvimento em Debate, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O estudo, intitulado Estado e desenvolvimento: uma análise a partir dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, foi conduzido por Júlio Korzekwa, Tecnólogo em Gestão Pública no Instituto Federal Sul-rio-grandense e doutorando em Políticas Públicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em parceria com a professora Drª Marília Patta Ramos, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A pesquisa examinou como os IFs podem contribuir para superar desafios estruturais do Brasil, tendo como referência teórica as concepções de desenvolvimento econômico de Celso Furtado e Caio Prado Jr. Com uma abordagem quantitativa e descritiva, baseada em dados de fontes como The World Bank, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), o estudo comparou o Brasil a países como Alemanha, Chile, Costa Rica, Estados Unidos, México, Reino Unido e Uruguai. Entre as variáveis analisadas, destacam-se a dependência econômica e tecnológica, o progresso tecnológico, a produtividade e questões sociais, como a distribuição de renda e a desigualdade racial.
Os resultados indicam que o Brasil é classificado como um país subdesenvolvido, mas apontam que os IFs têm potencial para auxiliar na superação dos obstáculos que o mantêm nessa condição. Isso se deve ao fato de essas instituições desempenharem um papel relevante na inovação tecnológica e no fortalecimento da economia do
conhecimento. Entre as 50 maiores entidades nacionais em registros de patentes de inovação, os IFs figuram entre os principais destaques, superando universidades particulares, fundações privadas e o Sistema S. No registro de modelos de utilidade, os IFs aparecem na segunda posição, ficando atrás apenas das empresas privadas. Já no registro de programas de computador, essas instituições respondem por 12,7% das patentes registradas no país.
Além de sua atuação na inovação, os IFs também desempenham um papel fundamental na educação técnica. Essas instituições são responsáveis por aproximadamente 30% das matrículas em cursos técnicos de nível médio no Brasil e formaram mais de 1,3 milhão de estudantes entre 2019 e 2021. Outro aspecto destacado na pesquisa é o potencial de transformação social que os Institutos Federais apresentam, isto foi visualizado por meio da composição do corpo discente: mais de 50% das matrículas são de estudantes autodeclarados pretos ou pardos, evidenciando a importância das políticas de cotas e assistência estudantil na inclusão educacional e na redução das desigualdades sociais.
O estudo também discute a relação entre a economia do conhecimento e o desenvolvimento social. A economia do conhecimento refere-se à produção e aplicação do saber para impulsionar a inovação e o crescimento sustentável. Contudo, os autores enfatizam que esse progresso precisa estar alinhado a políticas públicas que combatam
desigualdades estruturais, conforme preconizado por Celso Furtado e Caio Prado Jr. Dessa forma, a inovação tecnológica só se converte em desenvolvimento real quando acompanhada de inclusão e equidade social.
A pesquisa conclui que os IFs não apenas ampliam a qualificação profissional e fomentam a inovação tecnológica, mas também exercem um papel decisivo na redução das desigualdades socioeconômicas. Os achados do estudo reforçam a necessidade de expandir investimentos e consolidar estratégias que promovam crescimento sustentável e inclusão social, destacando os IFs como instrumentos fundamentais do Estado para enfrentar os desafios do subdesenvolvimento no Brasil.
Para Júlio Korzekwa, doutorando em Políticas Públicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e servidor técnico-administrativo em educação no Instituto Federal Sul-rio-grandense, é preciso fortalecer o reconhecimento do papel estratégico dos IFs no país: “O Brasil precisa reconhecer o potencial estratégico dos Institutos Federais e
fortalecer suas ações para consolidar um modelo de crescimento econômico mais autônomo e inclusivo. Além disso, é essencial expandir essa rede, criando novos IFs em regiões que ainda carecem de acesso à educação técnica e superior gratuita. A ampliação dessas instituições pode transformar realidades locais e gerar desenvolvimento sustentável em longo prazo, é o que a nossa pesquisa publicada indica.”
O artigo completo está disponível online e pode ser consultado por pesquisadores, gestores públicos e demais interessados na relação entre políticas educacionais e desenvolvimento socioeconômico no Brasil.
Acesso em: https://revistas.ufrj.br/index.php/dd/article/view/62190